28/10/2009

Isabela e o tempo.

Da minha mesa em um restaurante executivo tinha visão de quase todas as outras; vi-o, aos poucos, enchendo-se de rotineiros fregueses; vi-a, a pequenina Isabela de quatro anos, um anjo a zanzar por entre as mesas do Sujinho, apelido carinhoso do estabelecimento, atribuído por minha filha e sua amiga, especialmente pela simplicidade das instalações. Eu já vira Isabela algumas vezes naquele local, condicionada pelo cotidiano dos adultos; eu a imaginara filha da garçonete, mas após perguntar, descobri-a irmã, uma 'raspinha de tacho' num restaurante familiar, onde trabalham mãe e irmãos. Um menino que acabara de entrar, de uns cinco anos de idade, meio eufórico por estar num local novo aos seus olhos, não percebia ser observado por quatro olhos: os meus e os de Isabela. Ela, vidrada pela novidade de outra criança naquele local, só ele via; estabeleceu-se de pé próxima à mesa do garoto permanecendo ali estática durante muito tempo, aguardando que aquele potencial amigo a visse e se manifestasse, fitando-o, como uma predadora, sem piscar; ele a percebeu, mas vibrava numa frequência diferente, uma vibração triste que combinava com a de seus pais, que claramente não se amavam e que estavam apenas cumprindo dever de um para outro, como aparentava o comportamento; e o pequeno flutuava à deriva. Mas Isabela aos poucos foi percebendo o quão inútil seria permanecer diante daquele menino ínvio, incapaz de lhe tecer contato; foi então logo desanimando desse comprometimento estéril e saindo de fininho, já o esquecendo e buscando qualquer ilusão que alimentasse sua alma dionisíaca.

20/10/2009

Urso na Chapa Quente

Dizem que o urso bailarino do circo é treinado da seguinte maneira: Colocam-no sobre uma chapa metálica quente ouvindo uma música tocar; a elevada temperatura da chapa faz com que o urso se mova como se estivesse dançando. Durante a apresentação, o urso, já treinado (leia-se traumatizado), ouve a música e imediatamente se lembra da chapa metálica quente sob seus pés, de modo que dança mesmo sem estar, de fato, sentindo suas patas queimarem.

Quero dizer aos caros leitores que a situação atual deste editor está um pouco parecida à do urso bailarino, pulando em chapa quente, logo não tenho atualizado este blog nos últimos dias.