29/03/2008


27/03/2008

Viúva na praia



Rubem Braga

Ivo viu a uva; eu vi a viúva. Ia passando na praia, vi a viúva, a viúva na praia me fascinou. Deitei-me na areia, fiquei a contemplar a viúva.0 enterro passara sob a minha janela; o morto eu o conhecera vagamente; no café da esquina. a gente se cumprimentava às vezes, murmurando "bom dia"; era um homem forte, de cara vermelha; as poucas vezes que o encontrei com a mulher ele não me cumprimentou, fazia que não me via; e eu também. Lembro-me de que uma vez perguntei os horas ao garçom, e foi aquele homem que respondeu; agradeci; este foi nosso maior diálogo. Só ia à praia aos domingos, mas ia de carro, um "Citroen", com a mulher, o filho e a barraca, para outra praia mais longe. A mulher ia às vezes à praia com o menino, em frente à minha esquina, mas só no verão. Eu passava de longe; sabia quem era, que era casada, que talvez me conhecesse de vista; eu não a olhava de frente.A morte do homem foi comentada no café; eu soube, assim, que ele passara muitos meses doente, sofrera muito, morrera muito magro e sem cor. Eu não dera por sua falta, nem soubera de sua doença.E agora estou deitado na areia, vendo a sua viúva. Deve uma viúva vir à praia? Nossa praia não é nenhuma festa; tem pouca gente; além disso, vamos supor que ela precise trazer o menino, pois nunca a vi sozinha na praia. E seu maiô é preto. Não que o tenha comprado por luto; já era preto. E ela tem, como sempre, um ar decente; não olha para ninguém, a não ser para o menino, que deve ter uns dois anos.Se eu fosse casado, e morresse, gostaria de saber que alguns dias depois minha viúva iria à praia com meu filho — foi isso o que pensei, vendo a viúva. É bem bonita, a viúva. Não é dessas que chamam a atenção; é discreta, de curvas discretas, mas certas. Imagino que deve ter 27 anos; talvez menos, talvez mais, até 30. Os cabelos são bem negros; os olhos são um pouco amendoados, o nariz direito, a boca um pouco dentucinha, só um pouco; a linha do queixo muito nítida.Ergueu-se, porque, contra suas ordens, o garoto voltou a entrar n'água. Se eu fosse casado, e morresse, talvez ficasse um pouco ressentido ao pensar que, alguns dias depois, um homem — um estranho, que mal conheço de vista, do café — estaria olhando o corpo de minha mulher na praia. Mesmo que olhasse sem impertinência, antes de maneira discreta, como que distraído.Mas eu não morri; e eu sou o outro homem. E a idéia de que o defunto ficaria ressentido se acaso imaginasse que eu estaria aqui a reparar no corpo de sua viúva, essa idéia me faz achá-lo um tolo, embora, a rigor, eu não possa lhe imputar essa idéia, que é minha. Eu estou vivo, e isso me dá uma grande superioridade sobre ele.Vivo! Vivo como esse menino que ri, jogando água no corpo da mãe que vai buscá-lo. Vivo como essa mulher que pisa a espuma e agora traz ao colo o garoto já bem crescido. 0 esforço faz-lhe tensos os músculos dos braços e das coxas; é bela assim, marchando com a sua carga querida.Agora o garoto fica brincando junto à barraca e é ela que vai dar um mergulho rápido, para se limpar da areia. Volta. Não, a viúva não está de luto, a viúva está brilhando de sol, está vestida de água e de luz. Respira fundo o vento do mar, tão diferente daquele ar triste do quarto fechado do doente, em que viveu meses. Vendo seu homem se finar; vendo-o decair de sua glória de homem fortão de cara vermelha e de seu império de homem da mulher e pai do filho, vendo-o fraco e lamentável, impertinente e lamurioso como um menino, às vezes até ridículo, às vezes até nojento...Ah, não quero pensar nisso. Respiro também profundamente o ar limpo e livre. Ondas espoucam ao sol. O sol brilha nos cabelos e na curva de ombro da viúva. Ela está sentada, quieta, séria, uma perna estendida, outra em ângulo. 0 sol brilha também em seu joelho. O sol ama a viúva. Eu vejo a viúva.
(Rio, setembro, 1958)
Texto extraído do livro “Ai de ti, Copacabana”, Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1960, pág. 129.

24/03/2008

Pedimos desculpas aos nossos leitores pelo atraso nas postagens. Podemos explicar: No Brasil, de cada cinco dias trabalhados, dois dias são destinados ao pagamento dos vários tributos existentes, federais, estaduais e municipais. Três dias, portanto, é pouco tempo para se cuidar do restante, principalmente quando somos empreendedores.

20/03/2008

ROTATÓRIAS

Ao som de uma festa no Sesc, animada que está, a imaginar pelo ruído que me chega aos ouvidos a dois kilômetros de distância, já no município de Tremembé, disponho-me a falar sobre trânsito, tentando sintetizar algumas idéias acerca deste recurso conhecido como rotatória.

Não era assim. Qualquer morador do Vale do Paraíba, das redondezas de Taubaté, inconscientemente sabe que de uns dez anos para cá esta opção de trânsito foi implementada pela prefeitura e, é opinião nossa, evolveu-se à condição de estrela, espalhando-se por toda a cidade e pelas cidades vizinhas. Não sabemos ainda de quem é o mérito pela idealização deste sistema que tem revolucionado o tráfego de veículos; o prefeito Atual, Roberto Peixoto, engenheiro civil, grande "assinador de plantas de casas", parece não ter compreendido o seu funcionamento, pois anda construindo outras que não seguem o mesmo princípio que vamos tentar explicar aqui; este mesmo prefeito reluta em criar ciclo-faixas (espaços nas ruas para ciclistas) como existe em São José dos Campos e Pindamonhangaba. Aliás, será nosso tema futuro falar do grande e polêmico prefeito de Taubaté que se elegeu quatro vezes e elegeu todos os seus sucessores incluso o atual, o também engenheiro civil e ex-professor da Unitau, José Bernardo Ortiz.


(continua)

19/03/2008

BOA PERGUNTA:

POR QUE EM CACHOEIRO HÁ TANTOS CASOS DE DENGUE ASSIM ATUALMENTE?

16/03/2008

PRINCESA DO SUL

Ó TERRA DO REI,
CAPITAL SECRETA!...
PALPITA-TE ESPERTA?
—DESPERTA! DIREI.

ENTALHADA EM MÁRMORES,
CAMINHÕES GUERREIROS!...
AMANHA, CACHOEIRO,
ATENAS, MAIS ÁRVORES!

ESTRELA-DO-NORTE,
TROFÉU, ITABIRA!...
ARI DE ESTAGIRA
FOI SANGUE! NÃO SORTE.

Ó FILHA DO SOL
TROPICAL DO ATLÂNTICO!...
REPICO ESTE CÂNTICO
AFIANDO EM BEMOL.

POSSA O CÉU AZUL,
NOSSO, ACOMPANHAR...
O TEU DESPERTAR,
DOS MORROS DO SUL.

CORAÇÃO

Baiano de espírito,
Mineiro no trato,
Paulista no trabalho,
Carioca na descontração,
E capixaba de coração.

GRUNHIDO / PRÉ - HISTÓRICO
ANTIGUIDADE / CUNEIFORME
GUTEMBERG / RENASCENTISTA
INTERNET / GLOBALIZADA

O SAPATO

O SAPATO,
QUANDO DÁ PASSOS,
SAPATEIA POEMAS...

SAPATEIA E COMPÕE MÚSICAS...
DIA E NOITE, À LUZ DA LUA,
E MÚSICAS
QUE NEM PRECISAM
QUE HAJAM RIMAS

SAPATEIA, E NO SEU SAPATEAR
É JARDIM FLORIDO ,
E O JARDIM É O SENTIDO

O SAPATO,
QUANDO SAPATEIA,
POEMAS... E MÚSICAS...
SEMEIA.

Sérvio TúlioJuazeiro-BA

13/03/2008

09/03/2008

O FILÓSOFO NOEL ROSA



Com nome de flor, Noel nasceu de um parto difícil em que o uso do fórceps pelo médico causou-lhe um afundamento da mandíbula que o marcou por toda a vida. Para se avaliar a carreira meteórica deste artista, considere-se que nasceu em 1910 e morreu em 1937, com 26 anos de idade, tendo composto cerca de 300 canções. Só existe um vídeo com artista (1929). Veja no youtube. Mas sua voz é conhecida e suas musicas de muito bom gosto. Veja no youtube alguns de seus sambas: Onde está a honestidade? ; Pela primeira vez; Fita amarela; Filosofia;
Adolescente, aprendeu a tocar bandolim de ouvido e tomou gosto pela música. Logo, passou ao violão e cedo tornou-se figura conhecida da boemia carioca. Entrou para a Faculdade de Medicina, mas logo o projeto de estudar mostrou-se pouco atraente diante da vida de artista, em meio ao samba e noitadas regadas à cerveja.
Foi em 1930 que o sucesso chegou, com o lançamento de "Com que roupa?", um samba bem-humorado que sobreviveu décadas e hoje é um clássico do cancioneiro brasileiro. Noel revelou-se um talentoso cronista do cotidiano, com uma seqüência de canções que primam pelo humor e pela veia crítica. Noel também foi protagonista de uma curiosa polêmica travada através de canções com seu rival Wilson Batista. Os dois compositores atacaram-se mutuamente em sambas agressivos e bem-humorados, que renderam bons frutos para a música brasileira, incluindo clássicos de Noel como "Feitiço da Vila" e "Palpite Infeliz".
Noel teve ao mesmo tempo algumas namoradas. Casou-se em 1934 com Lindaura, mas era apaixonado mesmo por Ceci, a dama do cabaré. Passou os anos seguintes travando um batalha contra a tuberculose. A boemia, porém, nunca deixou de ser um atrativo irresistível para o artista, que entre viagens para cidades mais altas em função do clima mais puro, sempre voltava para o samba, a bebida e o cigarro.
De volta ao Rio, jurou estar curado. Faleceu em sua casa no bairro de Vila Isabel no ano de 1937, aos 26 anos, em conseqüência da doença que o perseguia desde sempre, ouvindo, a seu pedido, uma música de sua autoria cantada por seus amigos.

Pessoal, vamos colaborar com este blog.
Podem mandar que eu publico. Pode ser qualquer coisa, fotos,etc... Aceitamos até spam com vírus.

05/03/2008

No frigir dos ovos, Chaves aparece como um alvo em potencial. A qualquer momento alguém pode dizer-lhe: _Por que no te callas?

04/03/2008

É opinião deste KAXUBLOG que esta cidade não precisa mais de Ferraços, dinossauros em extinção. Queremos nomes técnicos, que tenham bagagem nova a oferecer. Como faria bem um bom engenheiro civil (eu, por exemplo) administrando esta Capital Secreta. Não precisa ser euzinho, mas que saiba equacionar as questões desta cidade com boa técnica. Será que teremos que esperar mais quanto tempo para que a evolução das espécies chegue até nós?

Não é só na novela que o nome Ferraço nos remete a um vilão. Aqui no ES, o jornalista Agnelo Neto, que tanto já fez por Cachoeiro, tem sofrido vetos em seus pleitos na Assembléia Legislativa, cuja origem não é outra, segundo fontes seguras, senão ele, o poderosíssimo Deputado Estadual "The ODORICO" Ferraço. Assim como Paulo Hartung é uma unanimidade forçada no estado, este também não admite oposição, coisa que o jornalista citado faz com categoria e veemência, e por isso incomoda tanto. Aparentemente, isto é resquício da ideologia praticada durante a ditadura, da qual este deputado foi partidário no passado. (Ainda bem que quem está escrevendo esta notícia mora em São Paulo, de certa forma longe do alcance daquelas garras).

Meu nome e AUGUSTO BANDEIRA FILHO, tenho 44 anos, atualmentevivo em Framingham, Massachussets,EUA, trabalho em uma cia de Landscap ecurso ESL. Framingham e uma pequena cidade situada a 30 minutos de Boston,onde vivem aproximadamente 20 mil brasileiros. Tenho formaçao academica na area de Engenharia Agronômica, tendopresidido duas estatais ligadas a Secretaria de Agricultura do Esp. Santo(atualmente extintas ou incorporadas a outras). Fui academico de Direito,Ciencias Sociais e Psicologia, nao tendo concluido nenhum destes cursos. Militei no movimento estudantil em Alegre, sendo o Presidente doDiretorio Academico do Centro Agropecuario da UFES, onde tambem fui diretordo DCE, participei de congressos da UNE e presidi a Casa do Estudante deCachoeiro de Itapemirim. Participei da organizaçao do IV Festival de Alegre efui o organizador geral do V. Na vida politica sempre mantive uma postura mais a esquerda,militei no PDT de Cachoeiro, onde fui Secretario da Executiva por diversasvezes, tambem fui Delegado a Convençao Estadual do partido. Mantive minhacoerencia ideologica por toda minha vida politica. Anti ferracista porconvicçao, fui exonerado do cargo que ocupava no Governo Albuino a seupedido. Frustrei-me com a politica e continuo assim...vejo hoje em cachoeirocombativos companheiros da epoca atrelados a este esquema coronelista decooptaçao de lideranças...basta ver Almir Fortes ( que ...*so descansariadepois de ver o Ferraço preso*...)...Elsinha, tambem do PCB...o AlvaroScalabrin...o Edinho Caroni,...o Toninho Miranda...entre outros...todosentregues ao glamour do poder pelo poder. Deixaram de crescer como liderançaspara ficar na sombra do nosso mini ACM. Mas, enfim, dei minha parcela de contribuiçao ao jogo politicocachoeirense..e fico triste de ver que nada mudou da epoca de minhamilitancia em Cachoeiro...os atores sao os mesmos...os que eram bons seatrelaram ao ruim e ficaram como ele...nenhuma renovaçao. Saudaçoes Trabalhistas ( esta foi para matar a saudade...rs) Augusto Bandeira Filho

A torre que fazia chover, símbolo da desengenharia cachoeirense, por onde andará?


Foto retirada do jornal Folha do ES.


Olá! Gilson

Bom Gilson como eu prometi aí segue a foto da vista aérea do bairro IBC, Monte Cristo, Jardim Itapemirim, Alto Monte Cristo, Baixo Monte Cristo, São Lucas, Vila da Esperança, Caiçara, Jardim América. Lembrança a todos,
Leandro Fraga Furlan

03/03/2008

Conto: A Última do Moacir.


Eram freqüentes as viagens do Moacir caminhoneiro a São Paulo, de Cachoeiro, transportando mármores, como era rotina sua mulher ligar àquelas paranças, tipo controle remoto. Assim, contatou ela, desta última vez, a marmoraria destinatária, sem, entretanto, localizar nosso protagonista que já pisara por ali e dirigira-se à habitual transportadora paulistana a recarregar e retornar; e foi de lá que recebeu triste notícia: “Não, ele não passou por aqui não”; então, flutuando em preocupação e imergindo no desespero, telefonou várias vezes no dia seguinte, e no outro, e no outro, à transportadora, à marmoraria e a outros possíveis lugares alternadamente, à espera de fruir informação prazenteira que em nenhuma das inumeráveis tentativas obteve. Desta forma, seu cérebro se contorceu, sua mente se obnubilou.

Este Moacir pitoresco, conhecido por assíduo quebrador de caminhões, dizia que era urucubaca, mas era "navalha" mesmo. Empregado fiel e bem disposto tivera a confiança de patrões até conquistar seu caminhão. Antigamente, só tomava cachaça; se bebia, virava macho, e aprontava; certa vez, em 1988, nas pedreiras norte-capixabanas, numa quadrilha de São João, mandara anunciar nos alto-falantes que seria ele o famigerado “Pé-de-boi” em pessoa, o lendário dançarino de pés de boi, assombrador dos forrós da época, e, a fim de demonstrar esta afirmação, atravessaria a fogueira descalço naquela mesma noite. E Fê-lo, uma primeira vez bem-sucedidamente; repetiu a temerosa travessia pela segunda, terceira, quarta e talvez quinta vez causando comoção aos presentes e obtendo seguidores, aventureiros quanto ele; aquilo virou festa; dia seguinte, seus pés abrasados, para remediá-los aplicou-lhes enxofre, ingrediente do fabrico da pólvora caseira na pedreira, que lhe valeu, de resultado, a carne exposta viva nos seus pés de burro. Exagerado, excedeu, em outra ocasião, a resistência de um Mercedez trucado com dois blocos de granito que lhe estouraram todos os pneus. Fez o mesmo com uma égua que, coitada, tombou despejando a densa carga ao chão. Teimoso e ingênuo, cultivava bigode limpa-trilhos que o penteava com os dedos, sinal de reinação. Inventava palavras, expressões: Tremedá era pântano; zoiúdo, sapo; bicho feio, situação difícil e a qualquer moça chamava-a de Bebel... Eram tantas e tais as façanhas do nosso amigo que, cientes disso, enciumariam-se o engenhoso fidalgo Dom Quixote De La Mancha e Sancho Pança, seu fiel escudeiro, ambos relegados por um único e valoroso cavaleiro.


Este ser insólito é o que era a causa do tumulto e preito dos amigos enquanto confortavam iminente viúva e um caminhão azul na rua surgia e seu motorista inquiria do acontecido ali, na sua casa.

Gílson Calegári Filho

02/03/2008